Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é (chega de 2023)
2023 foi, simultaneamente, um dos melhores anos que já tive profissionalmente e um ano esquisitíssimo de instabilidade, confusão geral e clima de barata voa. Quero falar um pouco sobre.
Primeiro, a delícia: esse ano abriu algumas portas que eu nem sabia que existiam, muito menos que poderiam ser abertas. Fiz duas (!) viagens internacionais (em parte bancadas por instituições, em parte do meu bolso), pra levar meu trabalho prático e acadêmico pra outros países (Portugal e Reino Unido). Nem parece verdade.
Não sou muito viajado: toda vez me choco com o fato de que um avião realmente é capaz de decolar (sempre parece que dessa vez a ilusão vai ser quebrada), então isso é algo que eu genuinamente nunca tinha considerado que poderia acontecer e é de longe um dos frutos mais fantásticos que o mestrado me trouxe (vi nevar pela primeira vez em Londres, de todos os lugares).
E teve mais. Consegui nesse ano fechar a tampa no meu projeto e dissertação de mestrado, fiz gráficos, mapas e outras Coisas de Jornalismo Visual pra 13 parceiros diferentes do jornalismo, terceiro setor, iniciativas de pesquisa e empresas. Ariel e eu lançamos um curso novo, fui parte do painel de jurados do Information Is Beautiful Awards (!), gravamos (80% de) um disco com O Nó.
E pra fechar, o trabalho dos repórteres talentosos com quem tenho a sorte de trabalhar levaram as pautas com que me envolvi a levarem uns 6 ou 7 prêmios diferentes — o mérito, como sempre, é mais deles que meu.
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Depois, a dor: menos clientes, valores mais baixos, desesperança no mercado. Perdi a conta de quantos amigos de áreas mais e menos criativas (ilustradores, tatuadores, desenvolvedores, jornalistas) vi relatando o mesmo: o mercado tá uma bosta. Parece haver, no geral, menos trabalho em quantidade, qualidade e compensação.
Me sinto privilegiado, de novo, por ter tido trabalho o suficiente pra manter o bonde andando e bem, ainda que pra mim a coisa também tenha sido diferente nesses últimos 12 meses.
Foram mais de 10 projetos a mais e 30% a menos de faturamento para o meu estúdio-de-um-homem-só em comparação ao ano anterior. Menos clientes novos e mais projetos com os parceiros recorrentes.
Em parte isso se deve a aprender a reconhecer os projetos que não vão rolar bem naquele momento e aprender a dizer não pra esses. Também dá pra argumentar que ter mais clientes recorrentes do que novos é um bom sinal. Ainda assim, uma vozinha no fundo da cabeça não deixa de acender um alerta de que as coisas podem mudar de repente e preciso estar constantemente me mexendo.
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No meu diário sobre o fim do ano passado fiquei ressabiado sobre se daria certo tentar a vida como frila e surpreso de que a coisa tinha rolado legal até ali.
Por sorte, segue rolando: continua sendo Meu Esquema Preferido indefinidamente (e espero que assim continue).
Pra ano que vem, porém, quero buscar um pouco mais de estabilidade e constância. Uma ajuda nisso, com certeza, vai ser poder usar com menos frequência alguns dos vários chapéus que inventei de colocar na cabeça (defendo o mestrado em janeiro, então já é um bom naco de energia que vai ser liberado).
Mas, principalmente, a partir do ano que vem me aproximo um pouco mais do Núcleo: em janeiro troco minha posição por lá pra uma de editor de jornalismo visual, ajudando a equipe a pensar em formatos diferentes e bacanas para as investigações sobre Big Tech que já são a marca do veículo. É uma mudança meio semântica: muda o foco e a energia que dedico ao trabalho que faço por lá.
Fora isso, sigo pegando clientes e projetos comissionados como frila — seja pra veículos de jornalismo, terceiro setor, empresas e quem mais precisar dar cara pra dados ou infos.
Tenho bastante noção do privilégio que é poder ganhar a vida desse jeito (e constantemente com uma pulga atrás da orelha de que isso tudo pode ir embora a qualquer momento) então tento trabalhar junto de quem faz projetos de impacto social real nesse mundo capenga que foi dado pra nós.
Obrigado a todos que trabalharam comigo ou acompanharam minhas andanças nesse ano.
Que 2024 venha com mais leveza e generosidade pra nós!✨
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E a hora do publi de mim mesmo: precisou de gráficos, diagramas, mapas, apuração jornalística, análise de dados, motion graphics (e às vezes um pouco de UI design no meio também)? Me contrate em 2024:
(depois do recesso atualizo meu portfólio com os projetos do ano, agora eu não vou fazer nada)
Até janeiro!
Publicado em 21/12/2023