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Como a imprensa brasileira reproduziu os gráficos do IPCC

A Lisa Charlotte Muth, que entre muitas atividades edita o blog do Datawrapper, fez por lá uma compilação muito interessante de como jornais reproduziram ou adaptaram os gráficos e visualizações do relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) para seus públicos.

💡 O IPCC é a principal entidade, ligada às Nações Unidas, para avaliar o consenso científico ao redor da mudança climática e seus relatórios têm imensa repercussão não só entre pesquisadores, mas entre o público geral. A comunicação científica da mudança climática é o principal desafio da entidade, que recorre frequentemente a gráficos, tabelas e diagramas para comunicar com governos, formadores de políticas públicas e imprensa – e é importante entender que tipos de representações visuais são usadas. Pra quem quiser saber mais sobre o funcionamento do órgão, recomendo essa aula.

Essas intervenções vão desde as pouco invasivas (mantendo boa parte do gráfico e adaptando só cores para a paleta de cores do veículo, por exemplo) até as mais dramáticas (alterando escolhas de gráfico, escalas, ou metáforas visuais).

Gráfico de linhas original do IPCC

Gráfico original do IPCC



Reprodução bastante semelhante do Süddeutsche Zeitung

Reprodução do Süddeutsche Zeitung



E no Brasil?

Pensei que seria interessante conferir como alguns veículos brasileiros repercutiram esses gráficos. Dei uma olhada nas publicações de Folha, Estadão, G1 e BBC (quem quiser colaborar com mais veículos, fique à vontade!) e vi algumas escolhas interessantes.




Mapas isopléticos

Folha e Estadão reproduziram os mapas isopléticos de temperatura média e precipitação do IPCC, mas só a Folha deu um destaque para o Brasil, reposicionando a escala do mapa. As escalas de cores são bem intuitivas, então foram mantidas à revelia dos esquemas de cor de cada veículo.

Reprodução bastante semelhante ao original do mapa coroplético representando temperatura média e precipitação

Na Folha



Reprodução do original, agora focando no continente sulamericano

Também na Folha



Reprodução do Estadão, visualmente semelhante a primeira da Folha

No Estadão



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Linha e intervalo de confiança

BBC, G1, e Estadão usaram o gráfico de linha com intervalo de confiança. O Estadão incluiu na própria legenda a explicação de cada cenário simulado – é uma solução bem textual, mas força o contexto pra dentro do gráfico.

Reprodução da BBC, bastante fiel ao original

Na BBC



Reprodução do G1, com paleta de cor mais discernível

No G1



Reprodução do Estadão, contendo na imagem uma coluna de texto que explica cada um dos cenários

No Estadão




Cartograma

Aparentemente só o G1 usou esse cartograma dentre os veículos analisados. Ele parece não ter sido muito usado porque é bem difícil de explicar pro leitor as regiões que cada hexágono representa – o próprio G1 omitiu essa informação e deixou só o indicador de contribuição humana. Na esquerda, o original do IPCC.

Cartograma em que regiões do mundo são representadas como hexágonos, coloridos pela tendência observada de alteração na ocorrência de ondas de calor extremo

Original do IPCC



Reprodução da BBC, omitindo os nomes dados a cada hexágono, que representam classificações de regiões pouco conhecidas

Adaptação do G1




Waffles ou barras

BBC e Folha reproduziram de alguma forma o gráfico de frequência de eventos extremos. BBC usou um gráfico de waffle e barras proporcionais e Folha outro um tipo de gráfico circle pack e barras com escala (incluindo o intervalo de confiança, omitido no da BBC)

Gráfico de Waffle mostrando com pequenos retângulos como ondas de calor extremo podem se tornar mais frequentes

Na BBC



Gráfico de Waffle mostrando com pequenos retângulos como tempestades extremas podem se tornar mais frequentes

Também na BBC



Mesma informação, representada com gráficos de circle pack, com pequenos pontos coloridos

Na Folha



Esses gráficos não parecem nada de outro mundo, mas tendo a achar que são bem complicados pra um leigo (o que é de se esperar dado o assunto complexo). Mas, considerando que os gráficos são assinados e podem circular por grupos de zap e afins, é bem importante comunicar bem.

Publicado em 14/12/2021