Oi! Esse é um resumo descompromissado do que fiz, vi e pensei no último mês. 2024 já começou no 220v, então vamos em frente. Pra acompanhar as próximas edições, assine a newsletter ou se inscreva pelo feed de RSS.
–
Utopias climáticas, chorume online, fim de mestrado
Destrinchando utopias climáticas
No fim do ano passado recebi um contato muito bacana da Alizé Carrère, uma pesquisadora, documentarista e comunicadora de ciência que estava conduzindo uma pesquisa de doutorado na Universidade de Miami sobre ‘Climatopias’: projetos arquitetônicos e urbanísticos que projetam uma visão utópica de adaptação climática para o futuro.
São tipo aqueles renders artísticos de paisagens cheias de verde cercando construções extremamente orgânicas, ou de cidades inteiras flutuando em arquipélagos artificiais (ou até mesmo debaixo do mar). Bem sci-fi.
Além de definir essa categoria, o trabalho dela consistiu em coletar e analisar projetos dessas construções utópicas (e/ou distópicas) e avaliar que visão de mundo estava expressa ali e qual a profundidade de transformação socio-política que esses projetos de fato antecipam.
Ajudei ela com alguns gráficos que entraram na tese e com um conjunto de seis pôsteres que estarão expostos na School of Marine & Atmospheric Science da Universidade de Miami. Cada pôster diz respeito a um tipo de resposta diferente ao futuro climático: desde “reduce”, para projetos que reduzem suas emissões e impactos até “retreat”, para projetos que antecipam a desapropriação de áreas não mais habitáveis, por exemplo.
Cabou Mestrado
Na mesma semana da defesa da tese da Alizé, aliás, eu finalmente defendi minha dissertação de mestrado! Quem é mais próximo sabe do quanto eu passei o último semestre de 2023 focado na função de terminar o trabalho sentindo que ele tinha a minha cara e era meu e era bom do jeito que eu imaginava que poderia ser quando embarquei nessa empreitada acadêmica. Felizmente, o resultado veio: gosto bastante desse trabalho ✨
Na banca (que ficou no YouTube) estiveram minha orientadora Doris Kosminsky, o Cláudio Esperança e o Pedro Cruz: por sorte, três pessoas que acompanharam com mais ou menos proximidade o desenvolvimento do trabalho e com quem troquei e aprendi muito ao longo desses anos.
Foram três anos, inclusive. Entrei no mestrado em 2020, durante a pandemia, procurando em parte uma justificativa pra ocupar a cabeça com qualquer coisa além do que o futuro reservava ali pra nós. Acho que só no último ano comecei a encontrar minha própria voz, autonomia e forma de trabalhar no ambiente acadêmico, aproveitando mesmo das experiências e perspectivas que o trabalho prático me deu. Valeu a pena ter me demorado.
Pra quem se interessar, o trabalho investiga como a crise climática é representada na visualização de dados usando como fio condutor o design de uma visualização do tipo. Acho que de certa forma é um registro de como ter estudado essa temática em profundidade expandiu bastante meus horizontes do que visualização pode ser e de como lidar com os problemas em que nos metemos.
A dissertação tá disponível em um site próprio com alguns elementos interativos e também em PDF.
Investigando chorume online
Publicamos esse mês lá no Núcleo uma denúncia da proliferação completa de conteúdo sexual infantil no Kwai, o primo feio do primo feio (TikTok). O assunto já tava quicando, com uma investigação do MP e uma reportagem da Piauí, daí o Pedro Nakamura, repórter do Núcleo, encontrou tanta tanta coisa no app que dava mais um monte de outras pautas.
Ele e eu fizemos algumas sessões usando o app e registrando todo tipo de coisa escabrosa que vimos por lá envolvendo crianças. Durante os 30 minutos de registro que fiz, encontrei pelo menos 40 conteúdos do tipo. Não preciso entrar em detalhes — a matéria já traz todos os recibos —, mas são coisas de embrulhar o estômago. Produzi também um videozinho, que felizmente circulou bastante nas redes, registrando o ‘experimento informal’ que fizemos.
Depois da reportagem, o Aos Fatos também publicou uma reportagem bacana focada nas lives com menores no app, e todo o esforço coletivo de chamar atenção pra esse problema trouxe algum impacto real: representantes do Kwai foram a Brasília prestar explicações ao Ministério da Justiça e Secretaria de Políticas Digitais, segundo a coluna do Guilherme Amado.
Além dessa pauta, esse mês lá no umbral do Twitter, o assunto Mynd8 continuou rendendo. Com tanto take baseado em especulação, eu e Sofia Schurig produzimos um diagrama sobre como funciona a operação do grupo, com seus vários CNPJs, sócios, braços de atuação, etc. É um conteúdo explicativo que acho que saiu com um timing legal também.
Design Ecologies
Outra coisa bacana que aconteceu nesse mês: à convite da Larissa Pschetz, professora em Design Informatics na Universidade de Edimburgo, falei um pouco da minha pesquisa acadêmica e prática de design com os alunos do curso “Design with Data”, que esse ano tem como tema “Design Ecologies”.
Foi legal ver meu cabeção exposto em tamanho A0, estilo Zordon, lá no espaço da galeria Inspace, onde meu projeto foi exposto em novembro passado:
Game of Life só que fractal
De doer a cabeça. Quem é metido com computador deve conhecer o “Game of Life”, um autômato celular projetado pelo matemático John Conway em que, a partir de quatro regras simples, todo um sistema se monta sozinho.
Não sendo suficientemente complexo, algum doido online (um estudante japonês identificado online como @saharan) projetou uma versão fractal do jogo: você pode dar zoom inifinitamente e cada pixel do jogo é formado por um outro jogo, e assim por diante. Parece que é feito usando a ideia de um OTCA metapixel, que é um pixel formado por um autômato celular próprio?
Não tenho ideia, não sou inteligente o suficiente pra isso e já tô forçando a barra do quanto entendo desse assunto. A moral da história é que é visualmente fantástico e dá pra passar um dia navegando nesse troço.
A gente tá indo pro Feirão do Mundo, quer alguma coisa?
Filme incrível que vi esse mês: “We’re All Going To The World’s Fair”, de Jane Schoenbrun. É um filme independente que estreou em Sundance em 2021, e que acompanha a experiência da adolescente Casey navegando solitariamente na internet, falando com estranhos online e participando do “World’s Fair Challenge”, um desses desafios virais baleia azul da vida.
Como uma criança extremamente curiosa que cresceu com muito acesso não supervisionado à internet, esse filme me pegou: ele capta tão bem essa experiência, o misto de desejo de conexão e pertencimento com o perigo, estranhamento e isolamento de estar online em uma internet que já passou. Vale demais. Não encontrei em nenhum streaming que assino, então achei nas melhores lojinhas do ramo.
(aproveitando, tenho visto bastante coisa e registrado na rede oficial do cinéfilo, me segue lá e vamos falar de filme!)
Designers escrevendo manifestos
Quem me mostrou foi o Lucas Lago. Esse é um site que reúne e organiza manifestos de design. Possivelmente uma das áreas criativas que mais se sente impelida a escrever manifestos, o design é cheio dessas, é todo um gênero literário.
É um material interessante pra estudo. Por um lado penso que o “designer que escreve manifestos” é sempre tingido da autoimportância desmedida que designers no geral se dão. Por outro lado, existem, de fato, trabalhos de importância monumental. Todo novo projeto pode ser, também, o ponto de partida de criação de outro mundo — e se você, enquanto designer, não acredita que o trabalho é capaz de transformar alguma coisa, talvez precise sonhar um pouco mais. Queria ler alguma reflexão sobre isso.
–
Fora isso, tô trabalhando em alguns vários projetos que devem sair nos próximos meses, mas fica pra depois. Agora: feriado de carnaval.
Quer trocar alguma ideia? Me manda um email! rodolfoalmd@gmail.com
Rodolfo
Janeiro de 2024
Publicado em 6/1/2024