Ver a vida por um Macromicroscópio 🦠🧫
Pretendia escrever um texto detalhado sobre o passo a passo de fazer esse projeto, mas esse textão já existe e se chama DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Passada a banca de defesa (que vai ser no meio de janeiro) compartilho a dissertação aqui na íntegra. Até lá fica aqui um registro do projeto e um pouco do que rolou em Edimburgo ✨
Foram uns dois meses de estresse até esse projeto ver a luz do dia, mas valeu a pena porque o lançamento foi chic!
Eu e Meuri pela Pentax Q do Pedro Cruz, na abertura da exposição em que o projeto foi exposto
Macromicroscópio é uma videoinstalação animada de uns 15 minutos de duração. Dá pra ver rodando ao vivo lá no site que o anjo Ariel Tonglet e eu fizemos, ou em vídeo no YouTube. É o projeto prático final do meu Mestrado em Design no PPGD-UFRJ, que agora está empacotado, só defender.
Passei os últimos meses tentando encontrar alguma metáfora visual interessante pra uma visualização de dados que tratasse de como outras formas de vida que dividem esse mundo conosco estão se saindo em resposta à emergência climática.
Não sou especialista em dados de biodiversidade, mas gosto do potencial da visualização de te fazer olhar para algo familiar por outro ângulo e depois de algumas ideias descartadas e três iterações dessa ideia cheguei nisso aqui.
A animação nos leva de 1950 a 2020. Durante o percurso, quinze pequenas placas de Petri (aqueles discos de vidro que são colocados debaixo do microscópio, sabe?) são preenchidas com pequenos pontos que se movimentam aleatoriamente, vida vista por um microscópio.
A quantidade de pontos diz respeito à “quantidade de vida” daquela espécie na métrica que lhe faz mais sentido. Número de indivíduos, quilos de peixes pescados, número de ninhadas: cada espécie usa sua própria medida. Esses dados vem de estudos que estão no Living Planet Index.
Enquanto vemos as placas se enchendo e esvaziando conforme as flutuações populacionais no período, a cor e o som trazem outra informação: calor. Os cantos da imagem e o tom das cordas mudam de matiz de acordo com dados de anomalias na temperatura na superfície da Terra. Vemos o ambiente passando de azuis frios e graves para um vermelho cada vez mais quente e agudo. Esses dados vem do Nasa GISTEMP.
A experiência que o público de Edimburgo parece ter tido ao assistir é de um misto de contemplação e consternação. O movimento dos pontos convida o olhar a se perder e procurar relações entre os pontos — por que essa população cresceu enquanto a outra diminuiu? — ao passo que as cores e sons provocam tensão e alerta.
Gostei bastante da chave interpretativa de ver algo que é muito grande (populações inteira de animais) a partir da tecnologia que usamos para ver algo que é muito pequeno (microorganismos em uma placa de Petri), e quando já estava com a ideia meio caminho andado topei com esse trecho do James Bridle no “Maneiras de Ser” que me indicou o caminho:
“A lente de que precisamos agora não é de um microscópio, e sim de um macroscópio: um equipamento que nos permita enxergar numa escala muito mais vasta — no tempo e no espaço — do que a usual.” (Bridle, 2023, pg. 180)
Esse projeto colocou vários obstáculos pra mim: o desafio conceitual de iterar muitas vezes uma ideia até ela se desenvolver (não costumo fazer isso nessa escala e duração); o desafio de me permitir fazer concessões em relação ao rigor dos dados que eu não poderia fazer em um projeto comercial, mas que são necessárias e desejadas pra um projeto artístico.
E principalmente o desafio técnico pra executar de fato: comecei o projeto em R, levei para o After Effects com um script do Ariel, e por fim para o Cables.gl, um software de programação visual em WebGL a partir de nodes. Fui entender como usar o Cables ao mesmo tempo que tentava fechar o projeto no prazo, ou seja, aprendi bastante e me estressei o mesmo tanto.
Cables enquanto representação do que foi minha cabeça até esse projeto sair
Por sorte tive ao longo do caminho a ajuda de desenvolvimento primeiro do Ariel Tonglet (que também ajudou com a ideia) e depois do Dudu Maluf, que montou a estrutura da coisa no Cables pra eu continuar o projeto. Agradeço mil vezes também à paciência da minha orientadora Doris Kosminsky, que deu tempo ao tempo até eu encontrar uma direção para o projeto, à todo mundo do LabVis que trouxe comentários, ao Pedro Cruz e Mauro Pinheiro, que contribuíram na banca de qualificação.
Que alívio é entregar!
Information+
O texto já tá longo, então vou ser rápido. Dá pra falar mil coisas sobre como foi a conferência e o período em Edimburgo, mas quero falar um pouco da exposição em que esse projeto estava, dos trabalhos bacanas que tinha por lá e largar uns links aqui!
A melhor parte de qualquer conferência são os encontros. Foi ótimo rever amigos da Outlier, como a Martina Zunica, a Shirley Wu e a Peiying Loh e fazer novos amigos como a Alessia Musio e a Evelina Judeikytė. Esse é o lance. Incrível também foi dividir a galeria com pessoas que são referência e que acompanho faz tempo (super fingi costume, jamais imaginei que estaria nessa posição). Alguns dos projetos bacanas que também estavam por lá foram:
- Ripple Effect, da Dorsey Kaufmann. Uma instalação que visualiza dados de qualidade da água ao redor do mundo usando os padrões visuais decorrentes da vibração da água pelo som;
- Though a patriarchy would privilege the changelessness of the sun over the inconstancy of the moon and you, da Shirley Wu. Uma instalação-performance sobre o descompasso entre o calendário solar e o calendário menstrual.
- From my terrace, da Alessia Musio. Um conjunto de intervenções diagramáticas em fotografias urbanas que abordam questões de saúde mental e equilíbrio entre vida e trabalho.
- Threads of Wisdom: Textiles, Data and Power, palestra da Ebru Kurbak. Não estava na exposição, mas foi minha fala preferida da convenção. Muita bagagem teórica sobre dados e informação com pé no chão e em práticas têxteis ancestrais.
Enfim, teve mais um monte de coisa bacana por lá, dá pra ver tudo que rolou no site da conferência. É isso, até a próxima!
Publicado em 12/12/2023